Pesquisa mostra que tratamento beneficia as mulheres, que representam dois terços dos pacientes da doença
Embora já tenha escrito sobre isso diversas vezes, sempre me assusto com a informação: dois terços dos pacientes de Doença de Alzheimer são mulheres! A entrada no climatério, a fase que abrange a transição do período reprodutivo para o não reprodutivo, pode ser uma das chaves para mudar esse quadro. Afinal, é quando a produção do estrogênio cai, impactando o organismo como um todo.
Além de aumentar o risco cardiovascular e de desenvolvimento de osteoporose, a longa lista dos sintomas que antecedem a menopausa inclui ondas de calor, fadiga, confusão mental, mudança de humor, insônia, ansiedade – o cérebro não fica de fora neste cenário de hipoestrogenismo, o termo técnico para a diminuição da quantidade do hormônio.
Um novo estudo, realizado por pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts, lança luz sobre a relação entre a idade da menopausa, a utilização de terapia hormonal da menopausa (popularmente conhecida como reposição hormonal) e o Alzheimer. Primeiro, é bom lembrar que a menopausa é uma espécie de marco: o diagnóstico se dá quando a mulher passa 12 meses sem menstruar. A partir daí, estamos na pós-menopausa. Os resultados, publicados ontem na revista científica “JAMA Neurology”, indicam que a menopausa precoce, que ocorre antes dos 40 anos, ou devido a uma cirurgia antes dos 45, é um fator de risco para demência. E mais: esse risco não foi detectado naquelas que se submeteram à reposição assim que pararam de menstruar.
“A terapia hormonal é o meio mais confiável para amenizar os sintomas da menopausa mas, nas últimas décadas, não se sabia exatamente que efeito causava no cérebro. Descobrimos que altos níveis da proteína tau, envolvida no processo do Alzheimer, só foram observados em mulheres que começaram a fazer reposição hormonal tardiamente, ou seja, cinco anos depois da menopausa. A ideia de que o acúmulo dessa proteína pode estar associado a uma terapia hormonal tardia e ao desenvolvimento do Alzheimer é um grande achado”, afirmou a pesquisadora Rachel Buckley, do departamento de neurologia da instituição.
Há duas décadas, o estudo conhecido como Women´s Health Initiative apontou que a reposição hormonal estava ligada a uma incidência duas vezes maior de demência entre mulheres acima dos 65 anos. Desde então, tal informação fez com que muitos médicos deixassem de prescrever o tratamento para suas pacientes. No entanto, o que chama a atenção no trabalho recém-divulgado é o risco da reposição feita com atraso, bem depois da menopausa. Buckley e seus colegas usaram imagens de tomografias por emissão de pósitrons (PET em inglês) para avaliar como a presença das proteínas beta-amiloide e tau, relacionadas com o Alzheimer, estava associada à idade e à terapia hormonal, como explicou a médica JoAnn Manson, coautora do artigo:
“Quando se trata de terapia hormonal, o timing é tudo. A reposição, se iniciada de forma precoce, não apenas protege contra a doença cardiovascular e preserva as funções cognitivas. Ela também não provoca o acúmulo de proteína tau”.