No total, 2,4 milhões de crianças no Brasil ficaram sem as três doses preconizadas da DTP, que previne contra difteria, tétano e coqueluche. Os dados se repetem com a vacina contra a pólio.
O relatório “Situação Mundial da Infância 2023: Para cada criança, vacinação”, lançado pelo Unicef nesta quinta-feira (20), faz um alerta importante sobre a vacinação infantil no Brasil: ao longo de 3 anos (2019-2021) 1,6 milhão de crianças não receberam nenhuma dose da vacina tríplice bacteriana (DTP).
Segundo o Unicef, o Brasil é responsável por 40% das crianças sem nenhuma vacina DTP na América Latina. O relatório da organização usa a vacina tríplice bacteriana como base para os dados.
A DTP protege contra três doenças:
- Difteria: causada por uma bactéria transmitida pela saliva, produz toxinas que podem levar à insuficiência cardíaca e paralisia.
- Tétano: provoca rigidez muscular progressiva e pode ocasionar insuficiência cardíaca. A transmissão acontece quando um ferimento entra em contato com bactérias presentes na terra, poeira ou fezes.
- Coqueluche: infecção que atinge o sistema respiratório causada por uma bactéria transmitida por meio da saliva, tosse e espirros.
A vacina é indicada para bebês a partir de dois meses e sua administração deve seguir o esquema adotado pelo Programa Nacional de Imunizações, que recomenda três doses: com dois, quatro e seis meses de vida, mais dois reforços.
❗ Mesmo quem teve tétano, difteria, doença causada pelo Haemophilus influenzae tipo b (Hib) e/ou coqueluche deve ser imunizado, uma vez que estas doenças não conferem proteção permanente frente a novas infecções.
Para uma criança ser considerada imunizada, ela precisa tomar todas as doses recomendadas de cada vacina e seus reforços, quando indicados. E os dados do Unicef apontam que 2,4 milhões de crianças no país não receberam as doses preconizadas.
Situação da vacinação DTP no Brasil — Foto: Reprodução/Unicef
Vacina contra pólio
Os dados da pólio são semelhantes: 1,6 milhão não receberam nenhuma dose da vacina e 2 milhões ficaram sem as doses recomendadas. No ano passado, a campanha de imunização contra a pólio teve a menor adesão em 40 anos.
A poliomielite – também conhecida como paralisia infantil – é uma doença causada por um vírus e geralmente provoca consequências graves, como perda dos movimentos, dificuldade ao falar, alterações no crescimento, e até paralisia completa dos membros.
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) recomenda a vacinação de crianças contra a pólio a partir de 2 meses até menores de 5 anos. As três doses do esquema básico devem ser dadas aos dois meses, aos quatro meses e aos seis. Também são indicadas duas doses de reforço como gotinhas: uma aos 15 meses e outra aos quatro anos de idade.
Vacinação contra a pólio no Brasil entre 2019-2021 — Foto: Reprodução/Unicef
Recomendações
Para reverter esse quadro, o Unicef faz algumas recomendações:
- Identificar e alcançar urgentemente todas as crianças, especialmente àquelas que perderam a vacinação durante a pandemia de covid-19;
- Fortalecer a demanda por vacinas, inclusive construindo confiança;
- Priorizar o financiamento de serviços de imunização e atenção primária à saúde;
- Reforçar os sistemas de saúde, incluindo investimento e valorização de profissionais de saúde, em sua maioria mulheres.
Baixa cobertura no mundo
O relatório traz também os números globais da vacinação infantil: 48 milhões de crianças não receberam nenhuma dose da tríplice bacteriana (DTP) nos anos analisados. Foram coletados dados de 112 países.
- Em 2019: 13,3 milhões de crianças não receberam vacina
- Em 2020: 16,5 milhões de crianças não receberam vacina
- Em 2021: 18,2 milhões de crianças não receberam vacina
O relatório examina a situação das crianças em todo o mundo e aponta as lacunas que precisam ser preenchidas para garantir o acesso infantil às vacinas. Segundo o documento, apesar do progresso inegável ao longo das décadas, a cobertura de imunização caiu ou estagnou em muitos lugares.
Os pesquisadores apontam que a Covid-19 colaborou para a queda na cobertura infantil, e esse declínio deve servir como um alerta para que os países voltem a priorizar a vacinação de rotina.
“Devemos tomar medidas para recuperar o atraso nas crianças que não foram vacinadas durante a pandemia, reconstruir os sistemas e preencher as principais lacunas nos sistemas de saúde. Para que a vacinação aconteça, a vontade política deve ser a prioridade número um em todos os países”, alerta o relatório.
FONTE: G1